segunda-feira, 3 de fevereiro de 2014

Crédito Fundiário auxilia trabalhadores rurais paraibanos a permanecer na terra

Trabalhar durante anos na terra, criar seus filhos nela e de repente ver tudo se perder... Essa poderia ser a realidade de 16 famílias de agricultores familiares do município de Mogeiro, na Paraíba, se não fosse possível adquirir a terra pelo Programa Nacional de Crédito Fundiário (PNCF). Coordenada pelo Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA), a política permite o financiamento de imóveis rurais não passiveis de desapropriação.
Empregados de uma fazenda há mais de duas décadas, esses agricultores mantinham uma relação de amizade e lealdade com o proprietário que, em 1997, resolveu doar para eles as terras. Tudo foi acertado, mas nada oficializado. Em 2000, o filho do fazendeiro avisou que a terra pertencia à família e que se preciso fosse os tiraria de lá, já que não havia documento que comprovasse a doação.
Em 2004, foram surpreendidos com um pedindo oficial de desocupação da área. Sem saber o que fazer, e não concordando com soluções radicais, foram buscar ajuda no Sindicato de Trabalhadores Rurais de Mogeiro (PB). De lá foram encaminhados a uma entidade de assistência técnica do município, parceira do programa, e esta propôs a compra da terra por meio do Crédito Fundiário.
Ajudados pelo técnico Severino da Silva, os agricultores e agriculturas tornaram-se, em 2006, proprietários do Sítio Guararema - uma área de 213 hectares, na qual trabalharam uma vida inteira. Nela plantam milho, fava, feijão e horticultura, além de criarem gado de corte e peru para comercialização e algumas vacas leiteiras, suínos, galinhas e bodes para subsistência.
Na escola, construída há 10 anos pela prefeitura, as esposas e as filhas dos agricultores que se formaram professoras cuidam, de maneira integrada com as atividades do campo, da educação fundamental das 25 crianças que vivem na comunidade.
Promovendo inclusão e sucessão
Dos beneficiários que adquiriram a área pelo PNCF, quatro são mulheres e quatro são jovens. Para a beneficiária Ester Luciano Rodrigues, a ação assegurou uma história de superação. Aos 29 anos, ficou viúva com oito filhos pra criar. O jeito foi assumir o lugar do marido na lida da roça. Para isso contou com a importante ajuda da cunhada Creuza Luciano Rodrigues, que dividia com os sobrinhos mais velhos e alguns vizinhos o trabalho na lavoura.
“Foram tempos difíceis”, conta Creuza. “Tínhamos que sobreviver. Eu saia cedo com os dois mais velhos pra roça, de enxada na mão, debaixo de sol quente. Ester cuidava da criação, da horta e dos meninos menores. Quando veio a notícia que íamos perder nossa terra, ficamos desesperadas. Mas graças a esse programa do Governo Federal hoje plantamos em uma área que é nossa e agora os meninos assumiram a lida”, assinala a tia.
Dos filhos de Dona Ester, seis permanecem na agricultura. Destes, três são também beneficiários. Nem os mais novos pensam em sair do meio rural. Francisco de Assis Rodrigues, 23 anos, garante que não vê na cidade a perceptiva de realização que o campo lhe dá. “Essa terra é nossa. Nela a gente planta, cria e assim dá continuidade ao trabalho de nossos pais. Na cidade somos mais um. Meu irmão mesmo foi pro Rio de Janeiro tentar a sorte e já ta querendo voltar, disse que lá a vida é muito mais dura, e nada é dele como aqui.”

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